« O papá voltará algum dia? » Rute, a viúva de Diogo Jota, desaba quando a pergunta inocente dos filhos se transforma num momento comovente e num gesto inesquecível 😭❤️

« O papá voltará algum dia? » Rute, a viúva de Diogo Jota, desaba quando a pergunta inocente dos filhos se transforma num momento comovente e num gesto inesquecível
Na sala de estar banhada pela luz suave do fim de tarde, Rute Jota ajoelha-se para apanhar os brinquedos espalhados no tapete. As gargalhadas das crianças, ainda leves apesar de tudo, ecoam como um eco distante do que era a casa antes. Diogo, o seu Diogo, já não está lá há seis meses. Um acidente de carro absurdo, uma curva mal negociada numa estrada do Algarve que ele conhecia de cor. Os jornais titularam o «drama do futebolista», os adeptos choraram em frente a Anfield, mas aqui, nesta casa em Formby, o vazio é mais pesado do que qualquer troféu.
Nesse dia, é a pequena Inês, com apenas cinco anos, que faz a pergunta. Segura nas mãos uma camisola vermelha com o número 20, a do papá. «Mãe, o papá voltará algum dia?» A frase cai, simples, inocente, como uma pena que aterra numa ferida aberta. Rute sente as pernas fraquejarem. Senta-se no chão, rodeada pelos três filhos: Inês, o pequeno Martim que ainda chucha no dedo, e o mais velho, Tomás, de oito anos, que fixa o chão como se pudesse ler aí a resposta.
O silêncio que se segue é tão denso que se ouviria uma lágrima cair. Rute abre a boca, mas não sai som algum. Como explicar a ausência definitiva a corações que ainda batem ao ritmo dos abraços da noite? Pensa em Diogo, nas piadas em português misturado com inglês, na forma como fazia rodar Inês aos ombros depois de cada jogo. Pensa na última vez que o viu, a dormir na cama deles, antes de partir para aquela deslocação fatal com a seleção nacional.
Tomás, o mais velho, sente o peso do momento. Viu a mãe chorar às escondidas, ouviu as chamadas tardias com a família em Portugal. Sabe, sem saber realmente. Aproxima-se de Inês, põe-lhe a mão no ombro. «O papá foi para muito longe», explica com a voz trémula. «Mas ele vê-nos. Está no céu, como as estrelas que olhamos à noite.» Inês franze o sobrolho. «Mas por que é que ele não desce? Prometeu levar-me à Disneyland.»

Rute sente uma onda de dor submergi-la. Puxa os filhos para si, os três corpos quentes apertados contra o seu. As lágrimas correm, silenciosas no início, depois em soluços abafados. Martim, sentindo o sofrimento, começa também a chorar, sem compreender. É então que Tomás faz algo inesperado. Levanta-se, vai buscar uma caixa de madeira no escritório do pai – aquela onde Diogo guardava as medalhas, as pulseiras de antes dos jogos, as cartas de amor escritas à mão para Rute. Abre-a com cuidado, como se manipulasse um tesouro frágil.
Lá dentro, encontra um envelope amarelado, endereçado a «Meus amores». Diogo escrevera-o anos antes, após o nascimento de Tomás, «para o caso de». Rute nunca o abrira, com demasiado medo do que poderia conter. Tomás, com os olhos brilhantes, estende-o à mãe. «Lê, mãe. É o papá a falar.»
Rute treme ao desdobrar o papel. A caligrafia de Diogo, firme e generosa, enche a página. Lê em voz alta, com a garganta apertada:
«Se estão a ler isto, é porque já não estou aí para vos dizer pessoalmente. Saibam que cada dia convosco foi o jogo mais bonito da minha vida. Rute, és a minha capitã, a minha força, a minha casa. Tomás, serás o homem que eu não pude ser por tempo suficiente. Inês, minha princesa, guarda o teu riso, ele ilumina o mundo. Martim, meu pequeno último, cresce com o coração da tua mãe. Não parti realmente. Estou em cada bola que chutam, em cada abraço que se dão, em cada vez que olham para o mar e pensam em mim. Prometam-me que viverão, que rirão, que se amarão. Espero-vos, algures, com um sorriso e uma camisola vermelha. O vosso Diogo, para sempre.»

As palavras flutuam no ar como uma carícia. Inês, que não compreende tudo, repete: «O papá está na bola?» Tomás acena com a cabeça. «Sim. E no vento, e nas estrelas.» Rute aperta o envelope contra o coração. Pela primeira vez em seis meses, chora sem desespero – lágrimas de memória, de ligação, de amor que não se apaga.
No dia seguinte, a família vai a Anfield. Não é dia de jogo, mas o estádio está aberto para uma homenagem discreta organizada pelo clube. Adeptos depositaram flores em frente à estátua de Bill Shankly, cachecóis vermelhos pendem das grades. As crianças, vestidas com as camisolas do pai, caminham de mãos dadas com Rute. Em frente ao Kop, Tomás tira uma bola do saco. Coloca-a no chão, olha para o céu, depois dá um livre perfeito – como Diogo lhe ensinara. A bola voa, limpa, precisa, e para mesmo em frente ao muro das lendas.
Inês ri, corre atrás da bola, e por um instante, o estádio parece vibrar com uma presença invisível. Os adeptos presentes, tocados pela cena, aplaudem suavemente. Uma senhora idosa, com cachecol ao pescoço, aproxima-se de Rute. «O vosso marido… vive nestas crianças. E neste clube.» Rute acena com a cabeça, incapaz de falar.

De volta a casa, a caixa de Diogo está agora aberta na mesa da sala. As crianças retiram memórias – uma pulseira da sorte, uma foto de família, uma medalha da Liga dos Campeões. Rute guarda a carta no bolso, como um talismã. Todas as noites, antes de dormir, lê-a em voz baixa. E todas as noites, as crianças fazem menos a pergunta. Começam a compreender, à sua maneira, que a ausência não apaga o amor.
Meses depois, num jogo contra o Manchester United, Anfield canta o nome de Diogo ao minuto 20. As crianças, convidadas para a tribuna familiar, olham para o estádio em vermelho. Inês ergue os olhos para o céu, procura uma estrela. Tomás aperta a mão da mãe. Rute, com lágrimas nos olhos, sorri. O papá não voltou. Mas nunca partiu realmente.