Testemunho de Manuel Valente, pai do principal suspeito, levanta dúvidas no julgamento do homicídio de Mónica Silva
O julgamento do mediático caso da grávida da Murtosa entrou esta quarta-feira, 29 de maio, numa fase decisiva com o início da inquirição das testemunhas de defesa. No Tribunal de Aveiro, o primeiro a prestar declarações foi Manuel Valente, pai do arguido e figura central em episódios relatados no processo, nomeadamente nos dias que se seguiram ao desaparecimento de Mónica Silva. A jovem, grávida de sete meses, desapareceu misteriosamente, e o seu corpo continua por encontrar.

Durante o seu testemunho, Manuel Valente viu-se confrontado com perguntas da procuradora do Ministério Público, que apontou contradições nas suas declarações. Em causa estão divergências entre o que o pai do arguido disse durante o inquérito e o que afirmou agora em tribunal. Uma das principais dúvidas incide sobre a limpeza exaustiva do apartamento da Torreira, local onde, segundo a investigação, Mónica terá sido morta.

O Ministério Público acredita que Manuel Valente poderá ter colaborado na tentativa de apagar vestígios do crime. A procuradora realçou que a meticulosa limpeza realizada após o desaparecimento da vítima não é compatível com uma simples preocupação com higiene, sugerindo que o pai do arguido terá ajudado a ocultar provas. O envolvimento do pai na investigação ganha, assim, uma nova dimensão, apesar de não ser ele o principal arguido.
Paralelamente, a irmã de Mónica Silva prestou um depoimento carregado de emoção. A testemunha confirmou o relacionamento amoroso entre a vítima e o arguido, contrariando qualquer tentativa da defesa de descredibilizar a ligação entre ambos. Este testemunho poderá ser determinante para o tribunal, reforçando a tese da acusação de que o crime teve motivação pessoal.

A defesa, que até aqui se manteve em silêncio perante os media, assume agora o centro do palco judicial. Com várias testemunhas ainda por ouvir, os advogados procuram levantar dúvidas sobre a consistência da investigação. No entanto, o silêncio do arguido, aliado ao desaparecimento do corpo e às inconsistências relatadas pelas testemunhas próximas, torna este um dos julgamentos mais complexos e emotivos do ano em Portugal.